quarta-feira, 25 de maio de 2011


Revolução nacionalista

Sun Yat-sen, primeiro presidente da República de China e fundador do Kuomintang.

O médico Sun Yat-sen, que criara em 1905 na cidade de Hong-Kong, o Kuomintang (Partido Nacionalista), de orientação republicana, foi um dos mais importantes líderes desse movimento, que teve apoio massivo de antigos participantes da Reforma dos Cem Dias, políticos liberais, estudantes e militares. Inspirado pelos Três Princípios do Povo – nacionalismo, democracia e sustento do povo – o movimento de Sun Yat-sen buscava uma ampla mobilização popular através de um discurso de teor patriótico: suas exigências eram a queda da dinastia Qing e a expulsão imediata de todos os estrangeiros que se apossavam das riquezas do país.
Os acontecimentos que levaram à queda da dinastia Qing, a chamada Revolução de Xinhai, desenvolveram-se entre 10 de Outubro de 1911, data em que se produziu a insurreição conhecida como Revolta de Wuchang. Rapidamente, conseguindo o apoio político de outras províncias, eclodiu-se diversas revoltas ao longo do país.


                                                       República da China

Yuan Shikai, confirmado presidente em 1913, instaura uma verdadeira ditadura militar com o apoio das potências, que, para salvaguardar seus privilégios, tutelam o novo regime, através de um empréstimo que lhes garante, em troca, o controle da arrecadação do imposto do sal, a exploração das ferrovias e das riquezas minerais do país. A Revolução, que começara como reação ao estrangeiro, termina por significar a consolidação de seus privilégios.


Yuan Shikai.

Durante a I Guerra Mundial agravam-se os problemas chineses. Em 1914, o Japão declara guerra à Alemanha e viola a neutralidade da China; em 1915, apresenta as “Vinte e Uma Exigências” que, é apenas parcialmente aceita por Pequim, desmoralizam o governo, que julga propicia a hora para restaurar o Império. De dezembro de 1915 a março de 1916, Yuan Shikai ostenta titulo de Imperador, mas é obrigado a abandonar o trono devido à forte oposição; conserva o cargo de presidente até sua morte em junho de 1916.
Entretanto, um golpe militar em Cantão faz com que Sun Yat-sen exerça novamente a presidência. Mas a situação do governo central estava muito deteriorada, visto que, o governo de Sun não controlava mais do que uma porção reduzida do território. O controle das outras regiões deslocou-se para as tradicionais elites rurais, que se agrupavam em torno de chefes militares. Várias províncias reivindicavam autonomia, e determinados territórios foram retalhados em “feudos” independentes. Os chefes militares locais (os chamados “senhores da guerra”) lutavam constantemente entre si e impunham todo tipo de arbitrariedades ao povo, como impostos e paralisação de colheitas e trabalhos públicos.
Em 1917, a China declara guerra à Alemanha na esperança de contar com a colaboração das potências imperialistas no período pós-guerra para que renunciassem às suas esferas de influências no país, que as tropas estrangeiras fossem retiradas, e que lhes fossem devolvidas as concessões e territórios arrendados. No entanto, a Paz de Versalhes lhe é desfavorável, pois as demandas chinesas para por fim ao estatuto semicolonial em que a China se encontrava não foram aceitas; o que provoca violenta agitação em todo o país, e a recusa do tratado. O Movimento do Quatro de Maio, anti-imperialista e anti-feudal, com o qual o proletariado chinês passa a aparecer no movimento político do país, possibilitou a propagação do marxismo-leninismo e sua combinação com a prática da revolução chinesa, preparando a ideologia e os dirigentes para a fundação do Partido Comunista da China.



Estudantes reunidos em Pequim durante o Movimento Quatro de Maio

Em 1922, os Tratados das Nove Potências asseguravam reconhecer a integridade territorial da China, que, em troca, deveria manter a política de portas abertas. Internamente, a nação sofre, depois de 1920, os efeitos da guerra civil, dirigida pelos “senhores da guerra”, que possuíam enorme poder nas províncias e controlavam, juntamente com outros grandes proprietários de terra, cerca de 88% das áreas produtivas. Em 1924, Sun Yat-sen reorganiza o Kuomintang, e nesse ano, Chiang Kai-shek, no comando da Academia Militar de Whampoa prepara, com a colaboração de oficiais alemães e soviéticos, o Exército Nacional Revolucionário.


Revolução comunista

A Primeira Frente Unida e o Massacre de Xangai:

A vitória da Revolução Russa em 1917, influenciou na criação do Partido Comunista Chinês (PCC), cujos principais fundadores foram o intelectual Chen Duxiu, o educador Peng-Pai e o ativista político Mao Tse-tung.




Em 1924, Sun Yat-sen, precursor da revolução democrática e fundador do Kuomintang, começou a cooperar ativamente com o Partido Comunista, formando a Primeira Frente Unida, organizando as massas operárias e camponesas para a Expedição do Norte. Após o falecimento de Sun Yat-sen, seu sucessor, Wang Jingwei, enfrentava atritos com o líder militar Chiang Kai-shek, que se vinculara a um velho aliado das potências estrangeiras, Zhan Jing-jiang, o banqueiro de Xangai. O grupo direitista do Kuomintang, com Chiang Kai-shek como representante, passa a controlar o Partido Nacional do Povo. Disposto a submeter os chefes militares locais e impor-se ao país todo, Chiang Kai-shek contou com a colaboração dos comunistas em suas campanhas militares de reunificação da China, empreendidas entre 1925 e1928. O apoio do Kuomintang era uma orientação da Internacional Comunista, que havia aclamado Chiang Kai-shek como um de seus dirigentes honorários – apesar do anticomunismo do líder chinês. O PCC aceitou disciplinadamente essa decisão. No entanto, o PCC apresentava algumas divisões internas. Alguns achavam que a revolução seria feita a partir das cidades, tendo como núcleo a classe operária. Por sua vez, Mao Tse-tung e outros dirigentes consideravam que a revolução deveria partir dos camponeses, maioria absoluta da população.



O Generalíssimo Chiang Kai-shek em março de 1945.


Em março de 1927, uma rebelião de trabalhadores em Xangai, liderada especialmente por comunistas, permite a tomada da cidade como parte da Expedição do Norte. O exército do Kuomintang chega após o fato, encontrando Xangai nas mãos dos trabalhadores e dos comunistas. Em abril, sentindo-se mais seguro no poder, Chiang Kai-shek ordena o massacre dos comunistas em Xangai e em outras cidades. Com o objetivo de neutralizar a influência dos comunistas no KMT, Chiang Kai-shek rompe com a Primeira Frente Unida pela violência, operando uma ofensiva brutal, que resultou em 300 mortes e cerca de 5.000 oficiais "desaparecidos”. O expurgo generalizado é decretado contra os comunistas dentro do Kuomintang. A ruptura com o Comintern é consumida: os conselheiros soviéticos do Kuomintang devem gradualmente deixar o país, e abandonam os comunistas chineses à sua sorte. No início, a atitude de Chiang provocou uma divisão do KMT. O KMT “de esquerda”, dirigido pelo sucessor de Sun Yat-sen, Wang Jingwei, formou um governo “opositor” em Wuhan. Os comunistas o apoiaram, e entraram nesse governo. Entretanto, em julho, Wang Jingwei, impotente em frente de Chiang, por sua vez, rompe com os comunistas e apoia o governo em Nanquim. A guinada desconcertou a Internacional Comunista.


O Levante comunista e a Longa Marcha:


Mapa da Longa Marcha das forças de Mao.

O Kuomintang estava pressionado por todos os lados: invasão japonesa, pressão internacional e a expansão célere do PCC no campo. Em 1934, os nacionalistas (Kuomintang) organizaram uma massiva campanha militar para acabar com o avanço do PCC. Fugindo das tropas do Kuomintang, os cem mil homens de Mao percorreram dez mil quilômetros a pé. Episódio conhecido como A Longa Marcha (1934-1935). A Longa Marcha pode ser entendida a partir dos seguintes pontos de vista:

• Como uma fugaO PCC, de fato, estava fugindo das tropas nacionalistas que o perseguiam em todos os lugares. Chefes militares denunciavam a presença de comunistas
• Como uma propaganda: Ao passo que o PCC fugia do Kuomintang, ia deixando em seu encalço os ideais revolucionários comunistas, que proporcionaram a adesão das massas ao movimento.
Ao fim da marcha, apenas nove mil comunistas haviam sobrevivido. Muitos morreram de fome, frio, doenças ou mesmo mortos por nacionalistas.
Ao voltar à base comunista no leste do país, Mao foi condecorado como líder dos vermelhos, sendo escolhido para secretário geral do PCC.





República popular da China

Era do Mao Tse-tung (1949-1976):

A China continental foi então, reorganizada nos moldes comunistas, com apoio soviético. As mais importantes das primeiras ações do governo Mao foram a nacionalização dos grandes meios de produção e a oficialização do PCC (Partido Comunista Chinês). Os contra-revolucionários sofrem brutal repressão: cinco milhões foram mortos em dois anos. Em 1950, a China assinou um tratado de amizade com a URSS. Nesse mesmo ano, os chineses ocuparam o Tibete, que foi anexado como província. Tropas chinesas também participaram da Guerra da Coréia(1950-1953), combatendo ao lado da Coréia do Norte (sob regime comunista), contra os EUA e a Coréia do Sul.
Entre 1953-1958 a China implanta seu primeiro plano qüinqüenal com apoio dos técnicos soviéticos, que deu grande impulso à indústria e a agricultura (esta coletivizada a partir de 1949). Entretanto, a morte do ditador soviético Josef Stalin, nesse ano, provocou mudanças de rumo no Partido Comunista da URSS (a “desestalinização”), que levou o regime de Mao a enfatizar sua autonomia em relação a Moscou. Em 1956, começaram as criticas ao governo, Mao Tse-tung então faz uma abertura cultural, o chamado Movimento Desabrochar de Cem Floresou Campanha das Cem Flores (1956-1957), estimulando a liberdade de expressão e formação de opinião sobre o seu governo e a diminuição do poder da burocracia partidária. As criticas, no entanto, ultrapassaram os limites que Mao se dispôs a tolerar, e após um ano, o regime reage com a Campanha Antidireitista, que mandou prender todos os da oposição. "Dei a liberdade para que as serpentes colocassem suas cabeças para fora" foi à célebre frase de Mao em 1956. Após um ano de liberdade a economia não melhorou. Mao acabou com a oposição e voltou a governar da mesma forma autoritária.

Retrato oficial de Mao Tse-tung, tal como mostrado na Praça da Paz Celestial.

Após a ruptura com o governo soviético (1958), a China realiza o segundo plano quinquenal, chamado de o “Grande Salto para Frente”, um projeto utópico que pretendia transformar a China em um país desenvolvido num tempo recorde. Outra proposta desse projeto era construir a sociedade igualitária preconizada pelo comunismo. Os camponeses seriam obrigados a se juntarem em gigantescas comunas agrícolas, as “comunas populares”, de até 20 mil famílias cada uma. Siderúrgicas improvisadas com tecnologia rudimentar foram instaladas por toda a parte. O “Grande Salto” foi um tremendo fracasso, que levou a desorganização total da economia e provocou a morte de milhões de camponeses por causa da fome. Com o fracasso do Grande Salto, Mao é afastado da direção da República retornando às vésperas da Revolução Cultural Chinesa, que durará entre 1966-1976.
O conflito ideológico sino-soviético, transformou-se num debate sobre a estratégia revolucionária, ao qual não faltaram acusações mutuas. Os chineses não aceitavam as teses de Kruschev sobre a coexistência pacífica entre capitalismo e comunismo e defendiam as teses stalinistas sobre a separação ideológica e política dos dois blocos rivais. Após o afastamento de Kruschev (outubro de 1964), a tensão entre os dois países abrandou temporariamente. No mesmo mês a China explodiu sua primeira bomba atômica, ingressando, assim, no “Clube Atômico”, até então integrado pelos EUA, URSS, Inglaterra e França.
Em 1966, intensificou-se em todo o país, sob a liderança da Guarda Vermelha (organização da juventude comunista), a chamada “Revolução Cultural”, movimento destinado a combater o revisionismo, as influências capitalistas no Partido Comunista e devolver a Mao Tse-tung a hegemonia no Partido Comunista e no Estado chinês. Uma tentativa autoritária de doutrinara população e livrar a sociedade chinesa da influência ocidental, considerada nociva.
Gradativamente, setores contrários à hegemonia maoísta voltavam ao poder. Com a morte de Zhou Enlai (ministro das Relações Exteriores) e de Mao Tse-tung, em 1976, inicia um período de disputas pelo poder político da China. De um lado estava o setor radical, que pregava a necessidade do aprofundamento da pureza ideológica do socialismo chinês (a famosa "Camarilha dos Quatro", integrada por Yao Wenyuan, Jiang Qing, Zhang Chunqiao e Wang Hongwen); do outro, colocava-se o setor moderado (encabeçado por Deng Xiaoping), do ponto de vista político-ideológico que pregava a necessidade de construir uma grande base material para elevar o nível de vida da população. Com a vitória do grupo moderado, inicia-se o processo de "desmaoização", em que as idéias e os adeptos da Revolução Cultural foram sendo afastados. Deflagrou-se um grande expurgo nos quadros partidários e do governo. Toda a culpa do desastre da Revolução Cultural cai sobre a Camarilha dos Quatro. A nova liderança do Partido Comunista pôs em prática um novo plano de reorganização política e econômica da China e aprovou uma nova constituição, um plano decenal e um novo hino nacional.

Mao Tse-tung proclamando a fundação da República Popular da China em 1 de outubro de 1949 em Pequim.

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